Cada vez mais cedo as crianças possuem aparência de adultos e preocupações de adultos. Esses mini-adultos remetem-me aos personagens das tirinhas e desenho animado do Peanuts, como o Charlie Brown por exemplo, que representa o estereótipo do perdedor crônico, eterno fracassado, procurando a auto-afirmação em toda parte, sem conseguir atingir o sucesso.
Para pensar um pouco sobre as preocupações apresentadas pelas crianças o canal Nickelodeon divulgou uma pesquisa realizada com 2,8 mil crianças de 8 a 15 anos de 14 países. E o resultado pode ser considerado alarmante. As crianças brasileiras são as mais estressadas por se preocuparem mais com sua segurança e com o terrorismo do que as outras crianças entrevistadas. O estudo "Well Being - O Equilíbrio Emocional da Criança" foi realizado durante seis meses e as crianças entrevistadas estão nas classes A, B e C, não necessariamente usuárias de TV por assinatura.

As crianças brasileiras lideraram quesitos importantes e preocupantes. Quando questionadas sobre o que as preocupa mais, 96% disseram que é conseguir um bom emprego. Elas também são as mais preocupadas com sua segurança e o índice aponta 75%.
Das crianças brasileiras entrevistadas 87% têm medo de terrorismo, sendo que nos EUA esse índice alcança apenas 57% dos entrevistados. Nossas crianças também lideram o ranking no quesito "me preocupa fazer meus pais felizes", com 95%. A morte dos pais com 98%, destaca-se como o maior medo das crianças brasileiras.
Segundo Beatriz Mello, responsável pelo departamento de Pesquisas da empresa no Brasil.
"As crianças são constantemente estimuladas por informações vindas de todas as partes e isso tem consequências profundas em suas vidas. Entender quais são os impactos da sociedade globalizada e de que maneira ela interfere na vida da criança de hoje foi o foco da pesquisa Well Being - O Equilíbrio Emocional da Criança."

Nenhum dos personagens do Peanuts tem poderes especiais, conquistando, assim, a simpatia do público por serem crianças comuns, mas com estereótipos de adultos, com quem é fácil de se identificar.
"As crianças de Schulz não são instrumento para contrabandear os nossos problemas de adultos; esses problemas são nelas vividos segundo os modos de uma psicologia infantil, e justamente por isso nos parecem tocantes e sem esperança, como se de repente reconhecêssemos que os nossos males poluíram tudo, na raiz."
"...os Peanuts fascinam com igual intensidade os grandes mais sofisticados e as crianças, como se cada um aí encontrasse algo para si, e é sempre a mesma coisa, fruível em duas chaves diversas".
Além do Charlie Brown temos na trama a Lucy, uma garota prática e racional, que beira a arrogância e tem grande poder persuasivo. O Schroeder que seria o intelectual da turma, tem por ídolo Beethoven, criando pelo músico uma adoração tamanha que o faz abstrair o mundo a sua volta, passando a maior parte do tempo tocando seu piano. Umberto Eco afirma sobre o Schroeder, “afundado em sua total admiração por Beethoven, salva-se das neuroses cotidianas, sublimando-as numa alta forma de loucura artística”. Além do Linus, garoto inseguro, que se apega a um cobertor e jamais se separa dele. Temos ainda a Patty Pimentinha uma má aluna, costuma dormir nas aulas e só tira D-, mas nunca perde o bom humor. Mantém uma queda secreta por Charlie Brown e conversa muito ao telefone com ele chamando-o sempre de Minduim. Adora as brincadeiras de menino e odeia as regras dos adultos. Outros personagens, que foram sendo integrados à turma com o tempo, exemplificam bem alguns comportamentos que não se enquadram como típicos de crianças.

Ficamos então pensando, o que é possível ser feito? Nossas crianças estão presas nesse mundo de preocupações assim como os pequenos apresentados por Charles M. Schulz?
É então que temos o cachorro Snnopy como solução desses problemas apresentados pelos personagens do Peanuts. À Snoopy é atribuído um traço de humanidade, alegria e otimismo que simbolizam a infância e a imaginação própria da criança, ausentes nas verdadeiras crianças da trama. Sua imaginação é alimentada pelo sonho de torna-se um grande herói.
Surge então junto com a interpretação do que representa o Snoopy o que podemos fazer por nossas crianças. Devemos “ajuda-las” a serem apenas crianças, com preocupações pertinentes a cada idade, sem antecipar os sofrimentos. Precisamos alimentar os sonhos. As experiências infantis relacionadas a brincadeiras e a fantasias são estruturantes e organizadoras da personalidade. Portanto, a criança que é privada dessas experiências pode apresentar algum problema psicológico no futuro.
Nesse ponto retomamos os posts anteriores nos quais foram enfatizados a importância da resiliência, da comunicação do afeto e das habilidades sociais. Por meio dessas nós poderemos ser um pouco o Snoopy e trazer de volta para nossas crianças o mundo infantil das brincadeiras, imaginação, sonhos, otimismo e humanidade.